TRANSCRIÇÃO DA BRINCADEIRA OBSERVADA
Após o término das
atividades na sala de aula do maternal da Creche Kyra Maria Paes, a professora
liberou as crianças das crianças observadas para brincar no pátio no horário do
intervalo. As crianças se dividiram em grupos, sendo estes: individuais, duplas
e grupos maiores, onde começaram a brincar. (Pular, correr, andar, passear,
gritar etc.)
Então as crianças dirigem-se
para o pátio onde os brinquedos estavam espalhados, os quais não pertencem aos
alunos, e sim à instituição. Quando cada criança começa a pegar os brinquedos e
se espalham pelo pátio. Podemos dizer que a brincadeira observada teve 2 (dois)
momentos: No primeiro momento os alunos participantes são Ana* e Lucas*[*], daí, começam a
brincadeira.
Lucas brinca com seu brinquedo, enquanto Ana
no banco atrás do colega arruma seus materiais, colocando suas bolsas e
guardando objetos dentro das mesmas, colocando uma em cada lado para carregar.
Ana segura a parte trazeira de uma, caçamba
colocando uma cestinho dentro.
Então, Ana sai gritando: “-
Olha a bacaxeira!!!”
Logo oferece a Lucas que
está sentado no chão. Lucas pega o que Ana lhe oferece.
Ana dá alguns passos a
frente e volta a oferecer a Lucas: “- Tome bacaxeira! Tome bacaxeira!”.
Lucas pega novamente o que
Ana lhe ofereceu. Então Ana o observa e após sai passeando pelo pátio.
Quando Lucas a surpreende
gritando: “- Quer caxeira!!!” Ana volta rapidamente para perto do colega e
entrega o que lhe pediu. Lucas leva a que Ana lhe entregou até a boca: “- Ahum...”
Ana sai novamente. Quando o
garoto grita mais uma vez: “- Quer caxeira!” A menina entrega ao colega o que
lhe pediu calmamente. E Lucas leva o que tem nas mãos até a boca.
Daí surge o segundo momento da brincadeira,
onde os alunos participantes são: Ana*, Pedro*, e Bia*.
Ana sai para o pátio. Quando
oferece o que traz para outra criança: “- Bacaxeira! Olha a bacaxeira!”.
Pedro a quem a menina
ofereceu no pátio, não aceitou: “- Quer não”. Voltando a brincar sozinho. Ana
sai e passa por Lucas e o oferece: “- Bacaxeira! Olha a bacaxeira! Quer
bacaxeira!”.
Estendendo a mão para Lucas
diz: “- Quer?” Lucas logo responde: “- Quer”.
Bia se aproxima de Lucas, e
Ana logo pergunta: “- Quer bacaxeira, quer”?
Bia responde acenando
positivamente com a cabeça. As duas crianças, Bia e Lucas aceitam levam a boca.
Por fim, a brincadeira
termina do mesmo modo que começou espontaneamente. Ana volta a passear no pátio, quando encontra
Maria, sendo assim largos os objetos que carregava na brincadeira anterior, e
então começa uma nova brincadeira com sua colega.
ANALISE
DA OBSERVAÇÃO DA BRINCADEIRA
Para
Vygotsky (1984), os elementos fundamentais da brincadeira são: a situação imaginária,
a imitação e as regras. Segundo ele, sempre que brinca, a criança cria uma
situação imaginária na qual assume um papel, que pode ser, inicialmente, a
imitação de um adulto observado. Assim, ela traz consigo regras de
comportamento que estão implícitas e são culturalmente constituídas.
O
brinquedo do qual se refere Vigotsky é a brincadeira imaginária que a priori
trata-se de uma representação da realidade, ou seja, é a memória em ação. Na
brincadeira observada, as crianças representam uma situação comum no meio em
que vivem.
É
importante ressaltar que o brinquedo no mundo ilusório criado pela criança que
é genuinamente simbólico, não é diretamente o objeto, mas a atividade de
brincar que tem como característica principal a criação de uma situação
imaginária baseada em regras de comportamento. Isto foi observado nas ações das
crianças de oferecerem insistentemente em voz alta os produtos que conhecem
serem vendidos deste modo, bem como o fato de, figuradamente, entregar algo (o
produto) e/ou receber algo (o dinheiro).
A
brincadeira de faz-de-conta é muito importante e tem desenvolvimento próprio. A
criança transita do domínio das situações imaginárias para o domínio das
regras. A essência da brincadeira de faz-de-conta é a criação de uma nova
relação entre o significado e a percepção, ou seja, entre o pensamento e o
real. Neste contexto, Vygotsky enfatiza o objeto como o pivô da brincadeira e
que ao brincar de faz-de-conta, a criança representa papéis e relações do mundo
adulto.
Diferentemente
de qualquer outro objeto, o brinquedo não tem uma função determinante, ele
permite a criança fazer uso da imaginação, utilizar o faz-de-conta, e embora o
objeto tenha sua imagem, ela não o limita a um único pensamento, único
princípio, mas sim a capacidade de criar. A criança possui no brincar um
caráter simbólico, porque ela coloca significados do brincar, isto é, ela cria situações.
Desta
maneira, a imagem que o brinquedo traz, faz com que a criança associe a ação
presenciada ou vivenciada, lhe reproduzindo ou a imitando, modificando-as na
forma como ver o mundo por meio da ficção. Por isso, não podemos só levar em
conta as ações do real, mas também a imaginação, pois é através dela que a
criança representa o mundo a sua volta. Dificilmente as crianças representariam
essa situação imaginária se não presenciassem situações similares (vendedores
de algodão doce, de macaxeira, de frutas, etc.).
A imagem do brinquedo sintetiza a
representação que uma dada sociedade tem da criança, isto é, uma imagem do
mundo destinada à criança e que esta deverá construir para si própria. O brinquedo não só condiciona a ação da
criança, mas também oferece um suporte determinado que ganhará novos
significados através da brincadeira.
O brinquedo é formado pelo domínio
do valor simbólico sobre a função, ou para ser mais fiel ao que ele é a
dimensão simbólica torna-se a função principal. Contudo trata-se de um objeto
que a criança manipula livremente, sem estar condicionado ás regras. Porém, a
brincadeira pode ser considerada como uma forma de interpretação dos
significados contidos no brinquedo, sendo assim, a brincadeira é uma atividade
livre e que não pode ser delimitada. Ele socializa a criança o desejo através
da brincadeira. Contudo, o brinquedo se insere na brincadeira através de uma
apropriação, ou seja, deixa-se envolver pela cultura lúdica disponível, usando
praticas de brincadeiras anteriores.
O
brinquedo possui seus traços próprios, no qual a sociedade que cria e
estabelecem os sentidos destes objetos, o mesmo aparece como um suporte no
desenvolvimento infantil, pois o brinquedo é também um suporte para a
representação das crianças, é um objeto lúdico onde as sociedades e sujeitos
que o manipulam podem criar significados diferentes para um mesmo objeto.
O
brinquedo tem a função de despertar o fazer de conta da criança, possuindo
assim imagens que darão sentidos as ações destes sujeitos. O brincar da criança
traduz significados, onde a função principal do brinquedo é o valor simbólico
atribuído, no brinquedo o valor simbólico é a função, está explícito no valor
que a criança estabelece, não na ação que ela constrói, ou seja, no que ela
realiza.
O brinquedo é um objeto infantil, no qual a
criança manipula livremente, é através dele que ela estimula a brincadeira e
esta não pode ser estimulada. Assim, a brincadeira é um processo de
relações interindividuais, portanto, de cultura, ela pressupõe uma aprendizagem
social, isto é, a criança aprende-se a brincar.
A
criança é um ser representativo, a todo o momento elas criam, e reproduzem
cenas. A brincadeira se tornou um tema de grande debate entre vários teóricos
importantes, utilizando critérios diferenciados para as atividades infantis.
A
atividade chamada de brincadeira observada pode se enquadrar no perfil de uma
atividade de 2°grau, onde no 1° grau a criança realiza ações como comer,
trabalhar, se vestir, coisas cotidianas, observamos uma atividade de faz de
conta, uma ação de 2° grau, aquela que se assemelha ao cotidiano, onde ocorre
mudanças nas ações, que são os sentidos e o domínio dado para as crianças.
A
brincadeira surge como um comportamento derivado de outra atividade que se
atribui significado. As crianças brincam porque decide brincar, utiliza um
critério de decisão, decidindo assim o que fazer cria o mundo imaginário, o
mundo que pertence ao 2° grau, o que é fora da realidade. A decisão é muito
complexa, implicando se é noite ou dia, qual é a hora que acontece a cena, se é
hora de comer ou não, decide os personagens da brincadeira e como deverão agir
na mesma.
A
brincadeira se transforma através da imagem que temos sobre o mundo, a mesma
não pode medir sua direção, pois não sabemos onde e qual direção irá tomar, as
crianças que iniciam o jogo, a brincadeira que os papeis que representam, ou
representarão, as suas ações em geral, todas as atitudes das crianças
envolvidas obedecem aos comandos das mesmas. Em todo o processo da brincadeira
os significados são atribuídos.
É
através da brincadeira que a criança explora, decodifica, interpreta e vai
estabelecendo seus significados. A experiência da brincadeira é o uso do
símbolo, o uso de um abjeto muda todo o contexto da ação praticada, o mesmo uso
de um mesmo objeto em uma brincadeira para a criança é a união de uma figura
essencial em seu convívio, que foi separada naquele momento, não está presente concretamente
e somente de uma forma abstrata. É o objeto que traz o símbolo desta união
abstrata para uma união concreta.
As
hipóteses as experiências vivenciadas por estas crianças é fornecer uma
continuidade de conteúdos culturais e pessoais, partindo assim para a
brincadeira, o qual é o inicio já que com a pouca idade e experiências prévias
não conhecem os jogos que estabelecem regras. A criatividade começa no brincar
que é manifestado na ação que se realiza, a brincadeira.
A
criança não somente possui uma cultura aleatória, não ocorre uma simples
imitação, ocorre assim uma modificação do que se viveu. Quando as crianças
brincam entre si podemos observar, que estas crianças estão criando uma
brincadeira de pares, uma cultura criada entre pessoas que participam de uma
mesma situação.
O
faz de conta está dentro da brincadeira, pois a criança interpreta , brinca,
fazendo representação de papeis. Com a concepção de o mundo adulto as crianças
no brincar, em seu faz de conta usam e expandem de acordo com a reprodução,
articulando características locais, reais, é frequente o uso das rotinas nas
brincadeiras das crianças.
É por meio do faz de conta que as crianças
buscam suas contradições, as mesmas lidam com regras e ficções e o desejo de
expressar o real. Na linguagem do símbolo a criança constrói elementos
cognitivos e emocionais, reorganizando cenas e seus ambientes diferenciados,
criando assim o espaço para a fantasia.
Ao mesmo tempo em
que as crianças desenvolvem importantes habilidades, elas trabalham assim a
importância de alguns valores da sociedade, assim examinam algumas
características da sua vida cotidiana, interpretando diferentes personagens, são
representações sociais que determinam valores de alguns eventos vivenciados por
estes sujeitos.
As crianças podem
construir brinquedos e cenários para utiliza-los em suas brincadeiras, tudo
isto com a ajuda e auxilio do educador, o mesmo deve proporcionar sugestões,
realizando ações que contribuam para isto. O professor é mediador e poderá
contribuir para fantasia de seus alunos.
Nesta
fase os desejos e necessidades das crianças estão relacionadas principalmente
as interações com os adultos, as atividades e funções acabam se transformando
em atividades de faz de conta.
No processo de construção de mundo a criança é
vista como sujeito ativo produtora de cultura, que constrói significados.
Brincar é um movimento essencial para a criança, a brincadeira faz parte de um
universo, é uma forma com que a criança pode se descobrir, e se descobre muitas
vezes, compreendendo assim o mundo que a cerca. A criança vai transformando cada brinquedo ou cada brincadeira em um
recurso de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BROUGÈRE.
Gilles. Brinquedo e cultura. São
Paulo: Cortez, 1997.
CORSARO,
Willian A. A reprodução interpretativa
no brincar ao “faz-de-conta” das crianças. Revista Educação, Sociedade e
Culturas. Nº 17, 2002, p.113-134.
HADDAD,
Lenira. Jogos e brincadeiras na Educação
Infantil. Mimeo
VIGOTSKY,
Lev Semenovich. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: A formação social da mente: O
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins
Fontes, 1998, p. 124-137.
WINNICOTT,
Donald Woods. O brincar e a realidade.
Rio de janeiro: Imago, 1975.
[*] Os nomes das crianças mencionadas são
fictícios.
** Trabalho realizado pelas alunas Gilliane França Evaristo e Rosilene Ferreira da Silva, orientado pelo prof. Ms. Paulo Nin Ferreira.
Oi meninas o blog está muito bom, eu só sugeriria que vocês dessem mais destaque ao título do blog, pois as letras e as cores do desenho ao fundo se misturaram,se colocassem uma tajá branca ao fundo do título ficaria bem melhor.É só uma sugestão, continuem desenvolvendo um bom trabalho.
ResponderExcluirObrigada Laise... Já fiz o ajuste...
ResponderExcluirBeijos
Muito bom amei
ResponderExcluirGostei da historia....
ResponderExcluirMuito criativo eu amei e já estou estudando pra brincar com os alunos.
ResponderExcluirMuito bom
ResponderExcluirgostei muito ansiosa pra colocar em prática
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